terça-feira, 11 de setembro de 2007

Entrevista do Prof. Silva Santos

Perguntas: Vera Esteves, 'Semanário'
- Que alternativa propõe o Dr. Carlos Silva Santos como candidato a Bastonário da Ordem dos Médicos (OM)?
Tendo em conta a insatisfação generalizada e multifacetada sentida pelos médicos quanto ao papel e actividade da actual Ordem e dos seus principais dirigentes, proponho-me promover uma ruptura com a situação de estagnação e descrédito da medicina e dos médicos.

- O que distingue esta candidatura das outras?
É uma candidatura de defesa consequente e em progresso do sistema nacional de saúde, da melhor organização profissional, nomeadamente em carreiras médicas, tendo sempre presente a melhoria da qualidade da medicina no contexto socioeconómico nacional com o grande objectivo de promover os ganhos em saúde da população.
É uma candidatura profundamente democrática, que pretende construir, renovando o património de reflexão e de propositura da Ordem dos Médicos. Nos tempos difíceis da actual política de pendor neo-liberal que tem levado a sérios entorses no sistema de saúde e a enormes prejuízos para a medicina e para os legítimos interesse médicos, é preciso e é urgentes chamar os médicos à construção de novas propostas e a novas acções na defesa da saúde pública – ao contrário de outros que, de forma centralista e auto-suficiente, querem o poder na Ordem só para servir os seus interesse pessoais.

- Em que momento o Dr. Carlos Silva Santos sentiu que havia necessidade de romper com as políticas adoptadas pela actual direcção da OM?
O amadurecimento do projecto de ruptura com a actual situação vem desde os últimos consulados da Ordem dos Médicos, mas tomou forma pro-activa com o Manifesto aos Médicos, divulgado no início de Maio passado.

- Quais são os projectos de campanha da candidatura?
A nossa campanha vai ser dirigida ao contacto com os médicos por diversos meios directos de textos, intervenções públicas e comunicação através do correio electrónico, para além da imprensa médica e da comunicação social em geral. Será nosso propósito propor debates abertos aos médicos com os restantes candidatos.

Bastonário actual: superficialidade
- Quais são os principais aspectos que critica na acção do actual Bastonário?
Sem querer personalizar, direi que a actual presidência da OM não tem estado à altura da defesa do SNS, dos médicos em geral e, em particular, da medicina. As intervenções do actual bastonário primam pela superficialidade muitas vezes ambígua e raras vezes fundamentada em reflexões alargadas à classe. A OM de hoje está sem património de reflexão sobre as graves ameaças que impendem sobre os serviços de saúde e sobre os médicos.

- O Dr. Carlos Silva Santos acusou o Dr. Pedro Nunes, actual Bastonário, de transformar uma opinião pessoal em pensamento institucional. Como candidato alternativo, qual é a sua posição face à figura do bastonário em si?
Nessa questão temos como ponto de honra democratizar o pensamento médico e considero que o bastonário deve ser o representante dos médicos e não somente uma personalidade. As técnicas de consenso e de promoção da discussão democrática têm sido marginalizadas, tornando-se estreito o pensamento da instituição, que tem sido confundido com o pensamento do actual bastonário.

- Que problemas/situações críticas mais urgentes considera que não recebem respostas adequadas por parte da OM?
Falta tanta coisa! A reflexão alargada sobre a defesa em progresso do SNS e das Carreiras Médicas. O combate à política neo-liberal de desqualificação dos médicos e de lhes atribuir a responsabilidade pela descaracterização dos serviços de saúde com baixa da qualidade e acessibilidade. A denúncia do crime da transferência para os privados de significativas áreas do SNS sem vantagens, quer qualitativas quer mesmo económicas.
Por isso, queremos a democratização da OM com alteração dos estatutos bem como a renovação do Código de Ética, adaptando-o inovadoramente às condições do nosso tempo.

- Que atitude deveria ter tomado a OM face à IVG?
Foi divulgada a minha posição que, no essencial, está no nosso comunicado de imprensa (leia aqui).

Falta de representatividade
- Alega que existe falta de representatividade nas estruturas executivas, pelo que facilita uma monopolização instalada por grupos da OM. De que forma se poderia resolver a situação?
O processo eleitoral constante dos actuais estatutos teria de ser alterado de modo a que a representatividade das várias sensibilidades médicas fosse assegurada por um método proporcional que fosse mais adequado e da vontade dos médicos. A necessidade de construir estruturas de direcção colectiva mais alargadas e permanentes.

- A OM tornou-se numa instituição rígida devido aos lobbies internos?
A OM está prisioneira dos grupos que a sequestraram, usando todos os meios para se perpetuarem no poder.

- E em relação à qualidade e à continuidade da formação dos jovens médicos, esta não é devidamente assegurada?
A OM deveria ter aqui um papel preponderante e não meramente o de gestor de júris, mas sim com propostas de formação e monitorização dos resultados com a cooperação fundamental e imprescindível dos próprios jovens médicos.

- Que futuro perspectiva para a OM?
O futuro depende da ruptura necessária que a minha e só a minha candidatura propõe. Em contrário, acabará por se transfigurar em definitivo num clube de interesses corporativos limitados, independente dos médicos e da qual nós, os médicos, nada esperamos – excepto o pagamento de quotas…

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