sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Texto do Prof. Doutor Silva Santos sobre a nova equia ministerial

Nova equipa na saúde, nova prática política?

Na ausência de um plano estratégico explicito para a saúde, Correia de Campos aplicou um conjunto diversificado de medidas que puseram em causa o SNS e prejudicaram as populações, fragilizaram os médicos e romperam com a organização das carreiras médicas, prometeram melhorar a saúde e o acesso aos cuidados de saúde e não alcançaram nem um nem outro objectivo. Perante tal ofensiva política, a resposta das populações e dos profissionais de saúde, incluindo os médicos, foi persistente, coerente e finalmente efectiva. Esta política de saúde desastrosa sofreu uma derrota significativa – o que não invalida que muitos dos seus efeitos perversos continuem a penalizar os médicos e as populações.
Confirma-se que é possível derrotar a intransigência, a auto-suficiência e a falta de fundamento, e não só falta de comunicação, de políticas de saúde contrárias aos seus obreiros e seus beneficiários, mesmo em situações de poder político maioritário. Estes ensinamentos são relevantes para ler este pequeno novo ciclo da política de saúde em vésperas de novas eleições.
A colega Ana Jorge, ao assumir a responsabilidade do novo Gabinete do Ministério da Saúde com o Secretário de Estado Adjunto, também médico, rompeu com um mau hábito recente de excluir os médicos da administração central. Com médicos como interlocutores é possível dialogar e participar mais no processo da organização e planificação da saúde. Com a colega Ana Jorge vai ser possível reforçar as reivindicações de renovação em progresso do SNS, a renovação das carreiras médicas com a revalorização do trabalho médico, em particular dos jovens. Com a colega Ana Jorge vai ser possível defender a saúde materno-infantil, o Plano Nacional de Saúde e os ganhos em saúde.
Sim: vai ser possível desenvolver em melhores condições o processo reivindicativo por uma melhor organização do SNS que respeite os direitos das populações, dos doentes e dos profissionais de saúde.
Quanto aos resultados, como a experiência mostra, esses vão depender da capacidade de reflexão, prepositura e mobilização dos médicos. Pela nossa parte, como movimento Alternativo para a Ordem dos Médicos, sem falsas expectativas, tudo faremos para contribuir para as mudanças necessárias, desejando que a colega e amiga Ana Jorge e a sua equipa tenham a clarividência e a força necessárias para renovar a esperança do direito à saúde e do SNS constitucional.

1-02-08
Carlos Silva Santos
ex-candidato a Bastonário

A opinião do Dr. Jaime Teixeira Mendes sobre a nova ministra da Saúde


A Nova Ministra


“Se vogliamo che tutto rimanga come è, bisogna che tutto cambi”

Tancredi para o Príncipe de Salina, in Gattopardo

Salta-me à memória esta frase com a mudança das cadeiras ministeriais, neste caso a da Saúde.
Contudo, o primeiro-ministro justificou a mudança afirmando que era para reforçar a confiança dos cidadãos no Serviço Nacional de Saúde.
O facto é que a confiança dos portugueses no SNS deixou de existir, porque a sua destruição estava em marcha, com:
- o acabar das carreiras médicas e da contratação colectiva;
- a permanência dos hospitais públicos num coma prolongado;
- o encerramento dos SAPs, sem alternativas;
- a incapacidade de instalar uma rede de urgências a nível nacional;
- as parcerias público-privado, em que a parte de leão foi sempre para o privado.

Deste modo, a ministra só poderá recuperar a confiança ou reforçá-la:
- se abrir a concurso todas as vagas de profissionais de saúde existentes no SNS;
- se revitalizar as carreiras médicas;
- se concretizar a carta hospitalar, os centros de referência e o mapa do SNS;
- se anular as “vergonhosas” taxas nas cirurgias e internamentos;
- se separar claramente as águas entre o público e o privado;
- se colocar um ponto final na baralhada das urgências.

Terá, então, o apoio não só dos profissionais de saúde, como de largos sectores da população.
A Drª Ana Jorge, em entrevista à Visão, disse: “…Tenho dúvidas que se esteja a salvar o S.N.S. Pode acontecer que o serviço público fique só com os coitadinhos”. E mais adiante: “É importante um ponto de ordem nesta confusão toda” (…) “os números não podem ser o único critério”. Estas foram palavras sábias que não só nos dão esperança no bom desempenho da nova ministra, mas também nos dão esperança que a frase celebrizada no romance o Leopardo não se aplique neste caso. Senhora ministra: agora tem a faca e o queijo na mão, espero que não faça como muitos e acabe por cortar a mão.

JAIME TEIXEIRA MENDES
CHEFE DE SERVIÇO DE CIRURGIA PEDIÁTRICA
HOSPITAL DE SANTA MARIA