sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Inauguração da Sede da Campanha em Lisboa

6 de Setembro,21 horas
Intervenção do Prof. Silva Santos

Com a inauguração desta sede de campanha, reafirmo o meu compromisso em candidatar-me a Presidente da Ordem dos Médicos.

Apresento-me a sufrágio para o único órgão que é eleito directamente pelos médicos a nível nacional e faço-o como candidatura alternativa, respondendo a um imperativo moral profissional e cívico.

A insatisfação entre os médicos quanto ao papel e à actividade da Ordem e dos seus actuais dirigentes, nomeadamente o seu bastonário, é generalizada e multifacetada.

É reconhecido pela generalidade dos colegas que a OM, como estrutura integrante do nosso sistema de saúde, não tem sabido, direi mesmo, não tem sido capaz de defender os médicos e a medicina perante a política ofensiva, agressiva e de pendor neoliberal desenvolvida pelos últimos governos.

As medidas legislativas e estruturais postas em prática pelo Ministério da saúde têm tido como consequências concretas reais a deterioração da acessibilidade e da qualidade dos cuidados de saúde e não têm demonstrado relevante contributo para os ganhos em saúde.

Entre as consequências mais gravosas está a instabilização dos profissionais médicos, a desorganização da acção médica e a culpabilização dos médicos pelos desmandos da actual política.

A candidatura que represento procurará defender com efectividade os valores éticos e deontológicos do exercício profissional público ou privado, saberá trabalhar para aprofundar as boas práticas em todos os campos da medicina garantindo a formação e a qualificação profissional participada e continuada. Será deste modo e não doutro que poderemos elevar o tão vilipendiado prestígio profissional e social dos médicos e garantir o direito constitucional à saúde dos portugueses.

É nosso objectivo promover a melhoria contínua do desempenho médico nas actuais instituições de saúde tanto públicas como privadas. A independência e a autonomia técnico-científica não são independentes do modo como está organizado o sistema de saúde.

Para nós é claro, como para os observadores e investigadores rigorosos, que o nosso Servido Nacional de Saúde possui virtudes que o tempo tem comprovado mas que necessita de uma reforma em progresso, não a sua liquidação. Também já é hoje claro, para a generalidade dos médicos, que a desarticulação dos serviços públicos e a sua substituição por privados não reforça a competência, a autonomia e a qualidade do desempenho nem mesmo garante uma subida geral de proventos como alguns imaginaram.

Para a mudança para a alternativa que propomos é necessário romper com a forma enclausurada, estreita e quase nada participada, distante, diria mesmo totalmente independente dos médicos e dos seus problemas, como tem sido gerida a OM.

A boa prática da direcção da OM necessita de uma mudança da sua democracia interna e naturalmente dos seus estatutos orientada para uma representação alargada e para a constituição de direcções responsáveis pluralistas e representativas do sentir dos médicos que hoje não se revêem nesta nossa associação.

Connosco os Colégios de Especialidade assumirão maior responsabilidade e protagonismo na orientação técnica e científica e na formação profissional pré e pós graduação e também na garantia da boa prática médica em todas as especialidades.

Connosco será promovida o trabalho colectivo de aprofundamento da orientação da política de saúde da OM criando as condições para uma intervenção consequente e global na defesa do SNS e do sistema complementar de que somos parte integrante e que não é propriedade de nenhum governo mas sim do povo português.

A medicina recebe continuamente contributos das ciências e dos meios académicos pelo que Ordem dos Médicos tem que assumir um papel activo de parceria na investigação e na formação médica e não continuar a ser mero destino final das inovações e avanços técnicos produzidos.

Comigo teremos uma Ordem mais democrática, mais participada, mais representativa, mais interveniente, mais conhecedora, mais respeitada, enfim mais de acordo com as expectativas e os interesses dos médicos, da medicina em geral e das necessidades de governação dos serviços de saúde.

Neste período eleitoral outros prometem e colam-se, quase sempre apressadamente, à defesa de algumas ideias caras aos médicos que nós nos comprometemos a levar à prática. No entanto, enquanto dirigentes não concretizaram nem mesmo partilharam de forma séria e consequente esses objectivos da classe pelo que só com um método participativo, alargado e duradouro em torno de novas ideias e projectos é possível devolver a OM aos médicos.
É este o meu compromisso.
Conto com o vosso saber e a vossa disponibilidade.

Lisboa, 6 de Setembro de 2007
Carlos Silva Santos

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