terça-feira, 1 de julho de 2008

Artigo do Prof. Doutor Carlos da Silva Santos

As carreiras médicas revisitadas em tertúlia

No passado dia 17 de Junho, o Conselho Regional Sul da OM, por intermédio do seu Vice-Presidente, colega Álvaro Beleza, promoveu na sede nacional uma «tertúlia» revisitadora das Carreiras Médicas.
Ocorrem-me três ou quatro notas sobre este conclave pluralista, multifacetado, com colegas de diversas sensibilidades e, muito particularmente, vindos de diferentes práticas profissionais e como tal defensores dos interesses correlativos.
Foi evidente que as novas estruturas privadas de saúde dos três principais grupos financeiros nacionais apresentam uma grande força e os colegas dirigentes destes novos serviços transmitiram, de forma insistente, as suas pretensões/necessidades de recrutamento não só de profissionais dos serviços públicos mas também de organizarem, à sua maneira, a formação de base dos novos quadros para a sua produção super especializada. Têm pressa e se a OM não corresponder não se comprometem a esperar. Ao evocarem a santa liberdade de seleccionar e contratar quadros não receberam o apoio da restante audiência e ouviram mesmo remoques de que são devedores ao estado da formação dos seus profissionais, que o complexo personalista do contratante da empregada dos pequenos nichos de mercado não é paradigma aceitável de garantia de qualidade em organizações diferenciadas e, para os médicos e para a OM, não é aceitável que a diferenciação técnico científica não seja una, independente da natureza da propriedade dos serviços de saúde.
A segunda nota relevante foi a verificação que a generalidade dos presentes reconhece, após verificação no concreto, que a destruição das carreiras e a introdução do regime de contrato individual tem sido um desastre na organização dos serviços. Tal diagnóstico confirmado por quem gere os hospitais empresas só realça a justeza dos avisos feitos por muitos de nós de que a produção em saúde, e não só hospitalar, tem de ser cooperativa e hierarquizada em saberes e competências facilitadas pelas carreiras de mérito.
Terceira nota relevante foi o consenso generalizado de que a OM está atrasada na reflexão alargada e na elaboração de propostas sobre as carreiras médicas na sua componente técnico científica. Mais se confirmou o sentimento de que a actual organização e capacidade de intervenção das direcções (pese embora a boa vontade de muitos colegas) e dos plenários de colégios de especialidade está muito aquém das necessidades. Acrescentei que é preciso uma mudança radical na estruturação e nas competências efectivas dos colégios a par da remodelação dos estatutos da OM. A participação dos colegas não se impõe nem se decreta constrói-se democraticamente transferindo responsabilidades, valorizando os contributos individuais e generalizando a comunicação inter pares.
A riqueza e pluralidade das intervenções mostraram o caminho a seguir. É preciso mais discussão e mais alargada, com liderança mas sem pressa em fechar ou limitar as conclusões. Uma tertúlia não faz a primavera tanto mais que, no encerrar da mesma, o Bastonário teve a oportunidade de enviar uma mensagem que metodológica e politicamente vai à revelia desta iniciativa. «Temos, dentro de dias, o código deontológico aprovado e, depois do verão, os colegas terão a oportunidade de o ratificar»
O MAOM (Movimento Alternativo para a Ordem dos Médicos) continua activo e participando está a construir o estatuto pluralista de oposição porque pugna.

Junho de 2008
Carlos Silva Santos

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